Nem muitos filmes de terror fazem as pessoas recuar fisicamente no sofá. Este, adaptado das páginas de Stephen King, conseguiu — e nem precisou de sustos repentinos para isso.
O apartamento estava tão silencioso que se ouvia o zumbido do frigorífico, o que só tornava o tilintar das algemas ainda mais audível. Deixei o telemóvel virado para baixo na mesa, como um pequeno pacto comigo próprio para realmente sentir algo. Disse a mim mesmo que só ia ver dez minutos. O primeiro arranhar de metal na madeira fez o quarto parecer mais pequeno, e depois ainda mais pequeno, até ser só uma cama, uma mulher e uma má ideia. E, mesmo quando achei que tinha tudo sob controlo — respiração estável, ombros relaxados —, o filme puxou um truque para o qual não estava preparado. O quarto deixou de ser um lugar seguro.
O choque de Stephen King escondido à vista de todos
O filme é Jogo Perigoso (Gerald’s Game) e está na Netflix como um desafio silencioso desde 2017. Baseado no romance de King de 1992, prende-te à luz do dia, onde o medo não se esconde nas sombras, mas no silêncio. Realizado por Mike Flanagan, constrói uma prisão a partir da rotina: um fim de semana à beira do lago, um casal e um par de algemas que, supostamente, não iam ter importância.
Os espectadores continuam a partilhar a mesma reação sem fôlego: a sessão que ficou em silêncio absoluto, o botão de pausa carregado como se fosse o interruptor do pânico. Um escreveu que o smartwatch pensou que tinha começado um treino. Outro não conseguiu terminar o jantar. A infame sequência de fuga é aquela sobre a qual as pessoas avisam umas às outras, e não é exagero — é anatomia a encontrar vontade e toda a gente a desviar o olhar.
Porque é que tem tanto impacto? Porque o filme joga de forma justa com o cérebro humano. Pressiona a claustrofobia, o medo de não ser ouvido, a forma como a luz do dia faz as horas prolongarem-se. O que assombra não é apenas o “Homem da Luz da Lua” (“Moonlight Man”), mas a maneira como as memórias aparecem sem avisar e se recusam a ir embora. O terror é clínico e íntimo, como se a história soubesse que portas manténs trancadas e acabasse sempre por encontrar a chave suplente.
Como ver sem perder a coragem
Prepara a sala como se fosses para uma corrida: prepara-te, hidrata-te, respira. Diminui as luzes, mas não apagues tudo, para dar descanso aos olhos entre cenas. Usa colunas em vez de auscultadores caso fiques tenso com o som demasiado próximo, e mantém uma pequena distração à mão — uma manta, um copo fresco — para micro-pausas sem tirar o ambiente.
Planeia as tuas pausas e cumpre-as, porque fazer scroll no telemóvel a meio de um susto só reinicia o medo. Todos já tivemos aquele momento em que agarramos o telemóvel como se fosse um escudo. Se és sensível, lê uma nota de conteúdo sem spoilers, para o cérebro não estar à espera de um sofrimento misterioso. Sejamos honestos: ninguém faz isto todos os dias. Mas este é um daqueles filmes onde um pouco de preparação torna a experiência ainda melhor.
Pensa na recuperação como parte do visionamento. Depois da “grande cena”, fica um minuto em silêncio para te recentrares: repara em cinco coisas que consegues ver, quatro que podes sentir, três que podes ouvir. Parece simples porque funciona quando o coração não quer abrandar.
“Não é o sangue — é a impotência que te atinge”, disse-me um amigo, ainda a esfregar o pulso sem se aperceber.
E se preferes um pequeno kit de conforto, usa esta lista:
- Luz acesa e volume baixo durante 60 segundos após o susto.
- Inspirar fundo durante quatro, segurar durante quatro, expirar devagar durante seis.
- Foca o olhar num canto do quarto, não no ecrã.
- Diz uma coisa que vais fazer depois dos créditos.
Porque é que este filme fica debaixo da pele
Jogo Perigoso resulta porque tira tudo exceto a escolha. Nada de casas assombradas. Nada de CGI interminável. Apenas uma cama, luz do dia e uma mulher, interpretada por Carla Gugino, a segurar o filme todo com coragem e microexpressões. O medo nasce do realismo e depois deriva para algo mítico, como uma febre que conhece o teu nome.
Há também o fator King: um autor que faz de um quarto trancado uma catedral de angústia. Flanagan traduz isso em cenas que respiram e depois sufocam, um ritmo que deixa baixar os ombros antes de apertar novamente a corda. Jogo Perigoso não grita; senta-se ao teu lado, sussurra e espera pela tua respiração a falhar.
As pessoas dizem que “quase desmaiaram” — e algumas dizem-no literalmente. O filme ativa o reflexo do desmaio como o desporto intenso: picos, quebras, recuperação. É terror corporal como teste de resistência, mas entrelaçado com uma história de sobrevivência que termina com dignidade, não crueldade. Sais abalado e estranhamente orgulhoso, como se tivesses ido a um lugar perigoso e trazido uma recordação da qual não consegues desfazer-te.
Há filmes feitos para ver e esquecer. Este é mais como uma tempestade que vês atravessar o lago, devagar e com propósito. Pergunta-te o que farias sem ninguém a vir, sem solução mágica, sem fuga fácil. Partilha com um amigo que acha que o terror são só sustos, ou guarda para uma noite em que precises de prova de que consegues mais do que pensavas. E, quando as luzes se apagam, vais saber qual o som que fica.
Resumo em tabela
Ponto-chave: O filme
Detalhe: Jogo Perigoso (Gerald’s Game, 2017), Original Netflix, baseado no romance de Stephen King de 1992
Interesse para o leitor: Identifica o título exato de que todos falam
Ponto-chave: Porque choca
Detalhe: Claustrofobia à luz do dia, tensão num só quarto, uma sequência de fuga infame
Interesse para o leitor: Define as expectativas e explica as reações do tipo “quase desmaiei”
Ponto-chave: Como ver
Detalhe: Luz baixa, pausas planeadas, técnicas de enraizamento, notas de conteúdo
Interesse para o leitor: Maneiras práticas de aproveitar o filme sem desistir a meio
Perguntas frequentes:
Qual é o filme de terror da Netflix que faz as pessoas dizerem “quase desmaiei”? Jogo Perigoso, realizado por Mike Flanagan e adaptado do romance de Stephen King de 1992.
É assim tão gráfico? Há uma cena de auto-salvamento notória, intensa e sangrenta. O resto apoia-se na psicologia, no silêncio e no medo à luz do dia.
É preciso ler o livro primeiro? Não. O filme funciona por si próprio, embora fãs do livro apreciem a fidelidade com que é capturada a voz interior da história.
O que devem saber os espectadores sensíveis? Os temas incluem coação conjugal, ferimentos de sobrevivência, claustrofobia e uma figura ameaçadora conhecida como o “Homem da Luz da Lua”. Há também um cão e uma sequência de trauma de infância.
Que outros títulos de Stephen King posso ver em streaming? A disponibilidade varia por região, mas entre as escolhas recentes da Netflix estiveram 1922 e Campo do Medo (In the Tall Grass). Consulta o catálogo local antes de planeares uma noite dupla.
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