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“Quase desmaiei.” Este assustador filme de terror, baseado num livro de Stephen King, está a surpreender os espectadores da Netflix.

Mulher deitada numa cama com um copo de água ao lado, enquanto uma figura sombria está de pé na porta.

Uma única adaptação de Stephen King na Netflix está a fazer adultos enviarem mensagens do género “Quase desmaiei” nos seus grupos de amigos — e não é a que estás a pensar.

O gelo tilintava num copo algures atrás de mim, a luz do corredor zumbia baixinho, o meu telemóvel pousado com o ecrã virado para baixo porque achei que queria focar-me. Trinta minutos depois, a história já me apertava o peito; aos sessenta, tinha os ombros encostados às orelhas; no último ato, percebi que tinha estado a respirar como um corredor assustado. Uma imagem, em particular, pareceu sair do ecrã e sentar-se no meu peito. Parei, pisquei os olhos e li um comentário acabado de chegar ao grupo: “Quase desmaiei.”

O pesadelo de Stephen King que os utilizadores da Netflix não conseguem esquecer

O filme é Jogo Perigoso, a angustiante adaptação de Mike Flanagan do romance de King de 1992. O ponto de partida é enganadoramente simples: um casal dirige-se para uma casa junto ao lago para reacender a paixão, um par de algemas torna-se mais do que um acessório, e depois — catástrofe. O que se segue é um duelo psicológico num quarto ensolarado, uma panela de pressão em que não há para onde fugir. É aquele tipo de terror que sussurra antes de gritar.

Anda pelas conversas online e vês o mesmo padrão: as pessoas começam confiantes, depois admitem que fizeram pausa, depois confessam que viram os últimos 20 minutos através dos dedos. Uma espectadora do Reino Unido jura que teve de parar às “1:14” para respirar junto à janela. Outra escreveu: “Vim para um susto rápido, fiquei pelo pavor e saí a verificar o meu pulso.” Também os críticos se renderam; Jogo Perigoso tem confortáveis mais de 90% no Rotten Tomatoes, sendo aquele raro filme de streaming que conquistou tanto os fãs de terror sangrento como os amantes de drama. Isso diz tudo.

O que lhe dá tanta força é a realização. Flanagan mantém a câmara colada à Carla Gugino como se os teus olhos estivessem algemados aos dela, e o design de som mexe com nervos primitivos: o metal das algemas, um cão a roer osso, as tábuas do chão a ranger como uma respiração. O filme divide a mente de Jessie em duas vozes — discutem, confortam, acusam — tornando a sobrevivência uma espécie de tribunal dentro do próprio corpo. E depois há o Homem da Luz da Lua, uma figura real ou uma última alucinação da desidratação. Seja como for, rouba-te o sono.

Como ver o filme sem te arrependeres às 3 da manhã

Pequenos gestos fazem a diferença. Apaga as luzes, mas não totalmente; o cérebro precisa de contornos, não de vazio. Diminui um pouco o brilho do ecrã para suavizar os picos de tensão. Tem água por perto, faz duas pausas propositadas — uma a meio, outra antes da reta final — e aproveita cada pausa para respirar 10 vezes devagar. Encarar o último ato como um mergulho em água fria: entra, sai, respira e segue em frente.

Erro comum: meter o filme depois de um longo dia à espera de um susto ligeiro. Jogo Perigoso cava fundo e aproveita qualquer brecha emocional. Se o terror físico for “proibido” para ti, pesquisa primeiro sobre “aquela cena” e decide se queres ou não ver. Toda a gente já teve aquele momento em que um filme ultrapassa um limite que nem sabíamos ter. Sê gentil contigo — ver com as luzes acesas não é batota. Honestamente: ninguém faz isto mesmo todos os dias.

Pensa como um corredor e não como um apostador. Escolhe uma altura do dia em que possas relaxar depois, define um ritual — luzes, alongamentos, um som reconfortante — e mantém-te fiel a ele. Assim, consegues enfrentar o susto sem pagar caro às 4 da manhã.

“Jogo Perigoso fez-me lembrar que o terror pode ser uma terapia com facas — afiada, invasiva, mas estranhamente curativa.”
  • Checklist pré-visualização: água, manta, baixar o brilho
  • Duas pausas planeadas para respirar e acalmar
  • Cuidados pós-filme: dez minutos de caminhada, snack ligeiro, série tranquila

Porque é que este filme fica connosco mais do que um mero susto

No papel, é um thriller de sobrevivência. Por baixo da pele, é uma história sobre autonomia, memória e sobre o modo como o corpo armazena o que a mente tenta arquivar. O livro prendeu Jessie a uma cama para forçar a mente a mexer-se; o filme respeita isso ao dividir o quarto em fases de luto e resistência. Não se trata apenas de sair das algemas. Trata-se de sair da própria história.

A interpretação de Carla Gugino é o motor de tudo. Ela sua, negocia, desmorona e levanta-se, frequentemente num só plano — uma atleta a correr uma maratona em cima de um colchão. Bruce Greenwood interpreta o charme tornado ameaça, um fantasma que usa a intimidade como uma faca. Flanagan confia no silêncio e na luz, evitando encher o quadro de truques baratos. A famosa sequência do “degloving” — os fãs falam dela em sussurros, como desafio — funciona não por ser gráfica, mas porque está justificada pela narrativa. Sentes, centímetro a centímetro, porque é que ela o faz.

Depois, há o Homem da Luz da Lua. Literal e metafórico, intruso e espelho, personifica a discussão sobre o que o medo faz quando é ignorado demasiado tempo. Alguns descartam-no como um twist tardio; outros vêem-no como a tese do filme em carne e joias. O filme deixa espaço para as duas leituras — e é nessa ambiguidade que reside o seu poder duradouro. O desconforto está a trabalhar a dobrar.

O que fica depois dos créditos — e porque se continuam a trocar mensagens

No dia seguinte, pequenas coisas chamam a atenção: uma mancha de luz em forma de algema no lençol, a maneira como um copo de água de repente parece um salva-vidas. Talvez fales contigo próprio ao lavar a loiça e não te importes. O filme dá-te essa autorização. Vai-se infiltrando nos momentos do dia em que carregas tensão — e oferece-te um pé-de-cabra e uma piscadela de olho. Não é catarse poética. É um trabalho de superação, que parece um desafio.

Já vi muita “propaganda” do tipo “não vejas isto sozinho” falhar, mas o motivo pelo qual Jogo Perigoso provoca tantas reações de “Quase desmaiei” é simples: junta o nervo básico do terror de sobrevivência com um inventário dolorosamente humano. No fim, a presença mais assustadora é a que não podes desligar — tu próprio. Do livro ao filme, de King a Flanagan, da casa do lago à sala de casa, a corrente mantém-se. Não há sustos fáceis, apenas uma mão a sair do ecrã para testar o teu pulso.

Talvez por isso, dias depois, alguém confesse no grupo que voltou a ver o filme, desta vez com as luzes acesas e um amigo em chamada. Não para ser corajoso, mas para tirar aquela segunda respiração que a primeira viagem lhe negou. O medo é contagiante. O alívio também.

Ponto chaveDetalheInteresse para o leitor
O filmeJogo Perigoso, adaptação de Stephen King, realizado por Mike FlanaganSaber exatamente que título está a gerar as mensagens de “Quase desmaiei”
Porquê que resultaCenário claustrofóbico, som visceral, Carla Gugino no augePerceber a arte que torna o medo tão pessoal
Como verAjustar brilho, pausas planeadas, rotina de “cuidados”Desfrutar sem arruinar o sono

Perguntas frequentes:

  • Jogo Perigoso é mesmo assim tão intenso? Resposta curta: sim. A tensão é constante e há uma sequência gráfica já perto do fim — mas é breve e justificada pela narrativa.
  • Preciso de ler o livro primeiro? Não. O filme funciona por si só e simplifica o monólogo interior do livro em diálogos claros e envolventes.
  • É só sangue e violência? Nada disso. A maior parte do terror é psicológico e situacional; a parte gráfica aparece de forma breve e marcante.
  • Quem são os protagonistas? Carla Gugino lidera com uma interpretação poderosa, acompanhada por Bruce Greenwood, num elenco muito restrito.
  • Se gostei, o que devo ver a seguir? Experimenta Hush, outro filme intenso de Flanagan, ou 1922 para uma adaptação diferente de King que também mexe contigo.

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