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Psicólogos dizem que quem tem dificuldade em descansar associa, de forma inconsciente, a tranquilidade ao perigo.

Homem sentado numa cafetaria a beber café, enquanto uma mulher dorme numa mesa atrás, junto à janela.

Fecha o portátil, atira-te para o sofá, respira, sê. Mas muitos de nós sentem um alarme silencioso disparar no momento em que o mundo suaviza. Todos já tivemos aquele momento em que uma noite livre parece uma armadilha.

O café acalmou depois da correria do almoço, um silêncio pairava no espaço como um cobertor suave. Um homem na casa dos trinta estava sentado junto à janela, mãos em torno de uma caneca da qual não bebia, o joelho a saltitar como se tivesse o seu próprio sistema meteorológico. Olhava para fora, depois para o telemóvel e voltava a olhar para fora, com uma pontada de alívio sempre que surgia uma notificação. Em frente dele, uma mulher tentava fechar os olhos, mas abria-os de repente, como se o sono fosse apanhá-la de surpresa. A sala estava imóvel. Os corpos deles não. Havia algo mais a ocupar a sala. Algo antigo.

Quando a quietude parece uma ameaça

Psicólogos notam frequentemente que pessoas que não conseguem descansar não são preguiçosas ou indisciplinadas; estão em alerta. Se o teu sistema nervoso aprendeu que movimento é sinónimo de segurança—mantendo-se à frente de críticas, problemas ou caos—então a quietude pode parecer entrar numa sala escura sem interruptor de luz. O mesmo alerta que antes te mantinha fora de perigo agora dispara quando tentas estar em silêncio, e o corpo entende isso como sinal para agir.

Pensa na Maya, que conseguia gerir catorze abas abertas mas não suportava uma tarde de domingo. Tentou uma hora de “não fazer nada” e o peito começou a vibrar como um telemóvel em silêncio, os dedos ansiosos por tarefas desnecessárias. Limpou um balcão que já estava limpo porque o silêncio fazia a pele arrepiar; a ação baixava o volume.

Por baixo do hábito, há uma ligação. O teu sistema simpático—feito para vigiar, correr e resolver—torna-se perito em estar de prevenção. Quando paras, o teu radar interoceptivo deteta sensações das quais estavas a fugir e classifica-as como risco. Estar ocupado torna-se um escudo; a quietude é quando os pensamentos, sentimentos e velhos alarmes finalmente te apanham.

Ensinar o corpo que o descanso é seguro

Começa com micro-descanso, não com uma paragem total. “Repetições de segurança” de sessenta segundos podem mudar a história que o corpo conta a si próprio: recosta-te, olha à volta da sala e nomeia cinco coisas que vês, quatro que ouves, três que sentes. Depois inspira e expira devagar três vezes, deixando a expiração durar mais do que a inspiração. É um sinal discreto ao nervo vago de que está tudo seguro.

Escolhe um apoio para as mãos inquietas: uma caneca morna, uma pedra lisa, uma manga de malha para roçar. Mantém o olhar suave e a mandíbula relaxada enquanto repetes estas pequenas pausas ao longo do dia, sobretudo logo a seguir a momentos que habitualmente te deixam em “modo ação”. Sejamos honestos: ninguém faz isto todos os dias. Mas fazê-lo alguns dias já basta para começar.

Espera os tiques nervosos. Não são falha; são dados. Estás a ensinar um sistema, não a carregar num interruptor.

“O teu corpo não acredita em frases. Acredita em experiências”, disse-me uma psicóloga. “Dá-lhe provas de que a quietude acaba bem.”
  • Experimenta uma “contemplação à janela” de 2 minutos após terminares tarefas. Termina com leveza.
  • Associa a quietude a calor: um cobertor, luz solar, um banho. Vai somando sinais de segurança.
  • Usa um temporizador para não ficares a contar o tempo. Pequena estrutura, grande alívio.
  • Pára enquanto ainda sabe bem. Deixa o corpo com vontade de mais.

O que se abre quando consegues estar quieto

Quando a quietude deixa de parecer uma armadilha, as opções multiplicam-se. Podes dormir porque estás cansado, não porque colapsaste; podes dizer não sem te protegeres. O zumbido de fundo acalma o suficiente para voltares a ouvir ideias, risos ou a simples chuva a bater na janela. O descanso parece seguro quando o corpo tem razões para confiar. E a confiança cresce com repetição, gentileza e a modesta prática de sentar um minuto e deixar o mundo ser só o mundo. A segurança sente-se, não se diz.

Ponto-chaveDetalheInteresse para o leitor
A quietude pode parecer perigosaO stress passado ensina ao corpo que o movimento é sinónimo de segurançaNormaliza a dificuldade e reduz a vergonha
O micro-descanso reeduca o sistemaPausas curtas e repetidas com expirações longas e orientação suaveFornece um método viável, adaptado à vida real
Associa o descanso a sinais de segurançaCalor, olhar suave, tempo limitado, texturas agradáveisTransforma o descanso de ameaça em recurso fiável

Perguntas Frequentes :

  • Porque é que o meu coração dispara quando tento relaxar? O teu sistema nervoso pode associar quietude a vulnerabilidade, ligando um alerta ligeiro. O movimento tornou-se a tua forma de desligar esse alarme.
  • Isto é o mesmo que preguiça ou falta de força de vontade? Não. É condicionamento, não caráter. Aprendeste uma estratégia que funcionou; agora estás a atualizá-la.
  • Consigo resolver isto sozinho? Muitas pessoas melhoram com pequenas práticas repetidas e diálogo interno mais gentil. A terapia pode ajudar se o repouso desencadear grande medo ou memórias antigas.
  • E se a quietude provocar pânico? Torna a pausa menor e mais segura: mantém os olhos abertos, acrescenta calor e termina antes do mal-estar aumentar. Se o pânico persistir, procura apoio profissional.
  • Quanto tempo demora a sentir diferença? Algumas pessoas notam mudanças numa semana de micro-descanso. Para reprogramação mais profunda, pensa em meses. O progresso é irregular, e isso faz parte do processo.

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