Um veterano peixeiro aconselhou os clientes a repensarem rapidamente uma escolha popular.
A sua preocupação não era o sabor nem o preço. Era o mercúrio, o passageiro silencioso que se acumula em predadores de vida longa e pode causar danos ao cérebro, coração e bebés por nascer.
O aviso que agitou o balcão do peixe
A mensagem do peixeiro centrou-se no espadarte. Esta espécie ocupa uma posição elevada na cadeia alimentar marinha. Cresce bastante, vive muitos anos e acumula mercúrio de ano para ano. Esse mercúrio transforma-se em metilmercúrio nas cadeias alimentares marinhas. O nosso corpo absorve-o facilmente. E também o elimina de forma lenta.
As autoridades de saúde aconselham grávidas, pessoas a tentar engravidar e crianças pequenas a evitarem completamente o espadarte. O peixeiro foi mais longe em relação a adultos saudáveis, recomendando um limite rigoroso: não mais do que duas porções por ano. Esse número surpreende muitos compradores, mas reflete quão rapidamente um único bife pode aproximar a ingestão dos níveis recomendados.
Grávidas e crianças devem evitar totalmente o espadarte. Adultos saudáveis devem reservá-lo apenas para ocasiões muito raras, se consumirem de todo.
Os sintomas do excesso de metilmercúrio não aparecem de um dia para o outro. Surgem de forma insidiosa. As questões neurológicas estão no topo da lista: formigueiro, dormência e dificuldades de concentração podem surgir. Exposições prolongadas também estão ligadas a uma maior tensão arterial e risco cardíaco ao longo do tempo. Um prato isolado não causa isto. Um padrão recorrente pode causar.
Porque razão os grandes predadores têm mais mercúrio
Pequenos organismos marinhos absorvem mercúrio da água. Os peixes pequenos comem-nos. Peixes maiores comem os mais pequenos. Cada passo concentra mais mercúrio. Os cientistas chamam a isto biomagnificação. O espadarte, cavala sarda (king mackerel), o peixe-agulhão/marlin e algumas espécies de atum estão no topo dessa cadeia. Acumulam mercúrio a níveis milhares de vezes superiores à água do mar.
Cozinhar, congelar ou marinar não remove o mercúrio. Este está presente no tecido muscular.
O que evitar, o que substituir
Algumas espécies devem mesmo ser evitadas pela maioria das pessoas. Outras fornecem a mesma proteína e ómega‑3 com uma fração do mercúrio. Eis um guia prático que pode usar no balcão.
Peixes com muito mercúrio a evitar ou limitar estritamente
- Espadarte
- Cavala sarda (king mackerel – não confundir com a cavala do Atlântico)
- Bifes e cortes de sushi de atum rabilho ou patudo (bigeye/bluefin)
- Tubarão e peixe-agulhão (marlin)
- Peixe telha (tilefish) do Golfo do México
- Tamboril apresenta níveis moderados em alguns registos; consulte avisos locais e consuma ocasionalmente
Alternativas mais seguras com excelente valor nutricional
- Salmão (selvagem ou de aquacultura), truta e truta-do-ártico para filetes robustos
- Sardinha, biqueirão e arenque para ómega‑3 e cálcio
- Cavala do Atlântico (também vendida como cavala da Noruega ou de Boston), não “king mackerel”
- Pescada, bacalhau, arinca e linguado para um sabor suave e refeições familiares
Regra prática: aponte para duas refeições de peixe por semana, variando espécies de baixo teor de mercúrio e dando variedade ao prato.
Quanto é demasiado? Guia simples de frequência
Os níveis de mercúrio variam conforme a espécie e o tamanho. Os valores abaixo refletem médias típicas em partes por milhão (ppm). Use-os para decidir com que frequência determinado peixe deve entrar no seu menu.
| Espécie | Mercúrio típico | Frequência recomendada |
| Espadarte | ~1,00 ppm | Evitar se grávida/criança; adultos saudáveis: iguaria muito rara |
| Cavala sarda (king mackerel) | ~0,73 ppm | Evitar; alto risco de ultrapassar limites semanais |
| Atum patudo/rabilho (bifes, sushi) | ~0,60–0,80 ppm | Limitar a ocasiões raras; evitar se grávida/criança |
| Atum albacora/atum branco (lata ou bife) | ~0,35 ppm | Adultos: até 1 porção/semana; grávida/criança: menos |
| Atum em lata “light”/skipjack | ~0,13 ppm | 2–3 porções/semana encaixam na maioria dos planos |
| Salmão | ~0,02 ppm | 2–3 porções/semana |
| Sardinha/biqueirão | ~0,01–0,02 ppm | 2–3+ porções/semana |
| Truta (maioritariamente de aquacultura) | ~0,07 ppm | 2–3 porções/semana |
| Tamboril | ~0,16 ppm | Cerca de 1 porção/semana; rodar com peixes de menor mercúrio |
O tamanho da porção importa. A maioria das recomendações considera 115–170 g (4–6 onças) cozinhadas como uma porção adulta normal. Para crianças, metade disso. Corpos mais pequenos atingem a mesma dose mais depressa.
Hábitos inteligentes de compra e confeção
Verifique os rótulos procurando os nomes das espécies, não apenas o nome comercial. “Cavala” sem especificação pode esconder a cavala sarda. Pergunte qual é. Opte por exemplares mais pequenos dentro de cada espécie sempre que possível. Peixes mais jovens acumulam menos mercúrio.
Planeie a sua semana de peixe como uma playlist: misture peixes gordos para ómega‑3 com peixes brancos para variedade. Inclua sardinhas ou biqueirão 1 a 2 vezes. Intercale salmão ou truta. Reserve bifes de atum ou albacora para raras ocasiões.
Lembre-se: o mercúrio não desaparece ao cozinhar. Grelhar, assar ou cozer não vão alterar o conteúdo. Retirar gordura também não ajuda, já que o mercúrio está no músculo, não na gordura.
Questões de saúde menos óbvias
O metilmercúrio afeta sobretudo o cérebro em desenvolvimento. Daí as regras mais apertadas para gravidez e infância. Adultos também podem sofrer efeitos com ingestão elevada e prolongada: alterações subtis de memória e coordenação surgem antes. Estudos cardiovasculares ligam peixes de alto teor de mercúrio a maior tensão arterial.
Alguns peixes fornecem também selénio, importante nas defesas antioxidantes. Os cientistas ainda debatem como interagem o selénio e o mercúrio. Considere o selénio um bónus, não um escudo. O caminho mais seguro é simples: escolha peixes de baixo teor de mercúrio.
A dimensão ambiental
O mercúrio chega aos oceanos por via da poluição atmosférica e da mineração. Microrganismos convertem-no em metilmercúrio. Este transita na cadeia alimentar até aos grandes predadores. Quando reduzimos a procura por espécies de grande porte e vida longa, ajudamos a nossa saúde e os próprios peixes.
Comprar espécies bem geridas e de baixo mercúrio orienta o mercado no bom sentido. Peixes pequenos e de crescimento rápido recuperam mais depressa da pressão da pesca. Oferecem também ótima nutrição, com menor carga de contaminantes.
E o atum em lata?
O atum “light” ou skipjack tem menos mercúrio. Serve bem para sandes ou saladas regulares. O atum albacora, rotulado como “atum branco”, tem mais mercúrio—limite a cerca de uma vez por semana se quiser incluí-lo na sua alimentação. Para crianças e gravidez, opte por atum “light” e porções pequenas, ou mude para embalagens de salmão, sardinhas ou pastas de truta.
Dicas extra para tornar o consumo de peixe mais seguro e simples
Consulte avisos locais para peixes de água doce se costuma pescar ao fim de semana. Lagos e rios podem apresentar avisos próprios de mercúrio, e as recomendações variam consoante a localização. Um filete de um lago pode equivaler a várias refeições de compra em termos de mercúrio.
Construa um plano de consumo de peixe para quatro semanas, para máxima variedade e risco mínimo. Exemplo: Semana 1 salmão e sardinhas; Semana 2 truta e bacalhau; Semana 3 atum light e pescada; Semana 4 arenque e linguado. Este rodízio mantém o mercúrio controlado e fornece DHA e EPA que protegem cérebro e coração.
Mantenha o que mais aprecia no peixe — só precisa de privilegiar espécies que também cuidam de si.
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