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Este iogurte foi denunciado pela UFC-Que Choisir: será uma fraude?

Mãos seguram dois recipientes: um frasco de vidro com leite fermentado e um copo de plástico com iogurte cremoso.

As prateleiras de lacticínios no supermercado parecem tranquilizadoras à primeira vista, mas algumas bebidas “saudáveis” podem não ser o que pensa.

Em França, um novo alerta da associação de consumidores UFC-Que Choisir reacendeu as dúvidas sobre uma bebida fermentada da moda: o kefir. Comercializado como uma espécie de primo milagroso do iogurte, ocupa cada vez mais espaço nas prateleiras, muitas vezes com embalagens bucólicas e promessas de saúde em letras grandes. No entanto, por detrás dos rótulos, vários produtos podem estar muito mais afastados do kefir tradicional do que os compradores imaginam - sobretudo quando se analisa de perto como são feitos e quanto custam.

Quando um iogurte “kefir” não parece kefir verdadeiro

A maioria das pessoas compra iogurtes ou bebidas de leite fermentado por razões simples: sabor, digestão, talvez uma promessa vaga de “bactérias boas”. O iogurte clássico mantém a receita curta. Basta leite e fermentos lácticos, nada mais. Um toque ácido suave, alguma cremosidade e um preço razoável.

O kefir, no papel, vai mais longe. Tradicionalmente, o kefir verdadeiro vem de “grãos de kefir”, uma mistura viva de bactérias e leveduras que fermenta o leite. Esta mistura confere ao kefir o seu perfil específico:

  • Uma grande variedade de estirpes probióticas, não apenas duas ou três como no iogurte básico.
  • Presença de leveduras, e não apenas bactérias lácticas.
  • Uma textura naturalmente ligeiramente gaseificada, devido ao gás produzido durante a fermentação.
  • Vestígios de etanol (álcool), tal como acontece com a kombucha ou o kefir de água.

Devido a esta fermentação mais rica, o kefir construiu uma forte reputação no universo do bem-estar. Muitos consumidores vêem-no como uma versão mais “avançada” do iogurte, sobretudo para a saúde intestinal e apoio à imunidade. Essa reputação permite às marcas cobrar mais.

O kefir nos supermercados franceses pode custar até três vezes mais do que o iogurte normal, mesmo quando a receita é semelhante.

A investigação mais recente da UFC-Que Choisir, baseada em produtos no mercado francês, mostra uma realidade diferente. Uma grande parte das bebidas vendidas como “kefir” alegadamente não utiliza grãos de kefir. Em vez disso, recorre a fermentos lácticos padrão, semelhantes aos dos iogurtes clássicos e leites fermentados. Ou seja, por detrás do rótulo brilhante “kefir”, muitas vezes encontra-se um produto familiar com uma nova história de marketing - e um preço bem mais elevado.

O que o kefir verdadeiro deve conter e o que muitos produtos usam na prática

Para perceber o problema, é preciso olhar para as definições. Embora em França ainda não exista uma norma legal específica para a palavra “kefir”, há referências internacionais. O Codex Alimentarius, um conjunto de normas alimentares usado mundialmente, dá um ponto de referência: o kefir lácteo autêntico deve conter um nível mínimo de leveduras por grama. Este detalhe é importante, porque as leveduras são uma característica definidora dos grãos de kefir tradicionais.

O Codex estabelece um limiar de pelo menos 10.000 leveduras por grama para o kefir - um requisito que muitas bebidas industriais “kefir” alegadamente não cumprem.

Segundo a UFC-Que Choisir, vários fabricantes reconhecem usar apenas bactérias lácticas nos seus produtos “kefir”. Evitam a mistura complexa de bactérias e leveduras presente nos grãos autênticos. O resultado tem aparência e sabor de um leite fermentado suave, mais próximo de:

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  • Leitelho (lait ribot)
  • Leben e leites azedos tradicionais semelhantes

Estas bebidas costumam ser mais baratas e não reivindicam uma identidade especial de kefir. Colocadas lado a lado, um consumidor pode assumir que a garrafa com a marca “kefir” traz benefícios adicionais. No entanto, em termos de composição, as diferenças podem ser pequenas - sobretudo se as leveduras estiverem ausentes ou existirem em quantidades reduzidas.

Característica Kefir lácteo tradicional Bebida “kefir” típica na prateleira
Fonte de fermentação Grãos de kefir (bactérias + leveduras) Apenas fermentos lácticos selecionados
Leveduras Elevadas e diversificadas Baixas ou ausentes
Gás / ligeira efervescência Frequente Muitas vezes removido ou nunca produzido
Vestígios de álcool Possível Normalmente minimizado ou evitado
Preço vs. iogurte Comparável em versão caseira Até 3× mais por litro

Porque é que as marcas preferem um kefir “controlado” em vez de grãos autênticos

Os produtores apontam razões de segurança e consistência. Trabalhar com grãos de kefir vivos significa gerir um ecossistema complexo. A composição exata de bactérias e leveduras pode variar com a temperatura, a qualidade do leite e o tempo de fermentação. Numa fábrica industrial, essa variabilidade é desconfortável.

Fabricantes entrevistados pela UFC-Que Choisir defenderam que usar um conjunto restrito e bem caracterizado de estirpes lácticas permite obter um produto estável. Destacam dois argumentos principais:

Risco microbiológico e estabilidade em prateleira

As grandes empresas de lacticínios precisam de lotes previsíveis. Quando se desenha uma cultura iniciadora em laboratório, é possível documentar cada estirpe, controlar a velocidade de fermentação e garantir melhor que não surgem microrganismos inesperados. Esta abordagem simplifica a gestão de higiene e facilita as verificações regulamentares.

Os grãos de kefir, pelo contrário, comportam-se como uma mini-exploração de microrganismos. Exigem mais atenção e adaptação. Para uma marca multinacional, esse tipo de flexibilidade traduz-se em custos e risco operacional.

A questão do álcool e da “efervescência”

O kefir tradicional cria uma quantidade mínima de álcool e gás. Para muitos consumidores, a palavra “álcool” num produto lácteo gera preocupação, mesmo que o nível seja extremamente baixo. Algumas empresas dizem querer evitar qualquer associação a bebidas alcoólicas, sobretudo em produtos consumidos por crianças.

O gás é outro obstáculo. O kefir verdadeiro sabe frequentemente a ligeiramente gaseificado, quase como um refrigerante. Nem toda a gente gosta de bolhas no leite. Uma marca francesa citada na investigação observa que os clientes tendem a rejeitar lacticínios efervescentes. Para corresponder ao gosto maioritário, os fabricantes reduzem o gás ou usam fermentos que não o produzam.

Ao remover as leveduras para evitar álcool e gás, as marcas retiram aquilo que torna o kefir diferente de um leite fermentado standard.

Onde começa a zona cinzenta legal

Em França, não existe atualmente um regulamento específico que defina o que pode - ou não - ser chamado “kefir”. Nesse ponto estrito, as empresas sentem-se relativamente seguras. Argumentam que, desde que a bebida seja fermentada e cumpra as regras gerais de segurança alimentar, a rotulagem é aceitável.

Mas a lei do consumidor estabelece outro princípio: as marcas não devem induzir o comprador em erro quanto à composição ou aos métodos de produção. Se o consumidor médio associa “kefir” aos grãos de kefir e a uma maior diversidade microbiana, um “kefir” sem grãos ultrapassa o limite? O debate está agora em aberto.

A UFC-Que Choisir sugere que usar o nome kefir em produtos que se comportam como um leite fermentado comum - sobretudo com um prémio de preço significativo - parece mais uma estratégia de marketing do que uma inovação real. A análise do grupo levanta uma questão mais ampla: até que ponto as empresas podem esticar nomes tradicionais de alimentos antes de lhes distorcerem o significado?

Como se proteger enquanto consumidor

Para quem percorre a secção de lacticínios, algumas verificações ajudam a separar a publicidade da substância.

Leia a lista de ingredientes, não apenas o rótulo da frente

O kefir tradicional não precisa de uma longa lista de aditivos. Uma lista curta com leite e fermentos é tranquilizadora, tal como no iogurte clássico. As estirpes bacterianas podem aparecer com nomes em latim. Quando leveduras ou grãos de kefir estão ausentes, pode estar a pagar mais por uma bebida fermentada comum, disfarçada de produto de bem-estar.

  • Procure menções a “grãos de kefir” ou a estirpes específicas de leveduras.
  • Desconfie de listas longas com aromatizantes, estabilizantes ou açúcares adicionados.
  • Compare o preço por litro ou por quilo com iogurte natural e leitelho.

Compare com opções mais simples e baratas

Muitos consumidores compram kefir pela digestão, saúde óssea ou apoio à imunidade. No entanto, iogurte clássico, leitelho natural ou leben já fornecem cálcio, proteínas e bactérias benéficas. Para quem tem uma alimentação variada e rica em fibra, o ganho adicional de um “kefir” premium pode ser modesto face ao custo.

A diferença de preço torna-se relevante quando o kefir chega aos 6 ou 7 euros por litro, como referido em França. Ao longo de um mês, numa família que consome lacticínios diariamente, este prémio pode pesar no orçamento alimentar sem oferecer a vantagem esperada.

Para quem quer kefir autêntico

Alguns consumidores continuam a querer a bebida tradicional, com todas as suas particularidades. Para esses, destacam-se duas opções:

  • Marcas de pequena escala ou artesanais que indiquem claramente o uso de grãos de kefir.
  • Fermentação em casa com grãos partilhados ou vendidos por comunidades especializadas.

O kefir caseiro requer equipamento básico: um frasco de vidro, leite e grãos. A fermentação demora normalmente um ou dois dias à temperatura ambiente. O processo exige higiene e atenção regular, mas permite controlar sabor, intensidade e ingredientes. Quem optar por esta via deve informar-se sobre boas práticas de segurança, tempos de conservação e o impacto da fermentação no teor de álcool - sobretudo no caso de crianças e grávidas.

Para lá do kefir: a lição mais ampla sobre alimentos “saudáveis”

Esta história do kefir encaixa num padrão mais geral. À medida que cresce o interesse pela saúde intestinal, multiplicam-se os lacticínios e bebidas “funcionais”: iogurtes hiperproteicos, shots probióticos, kombucha, leites enriquecidos com fibra. Alguns produtos trazem inovação real. Outros limitam-se a repackaging de receitas antigas com nova terminologia e margens mais elevadas.

Para o consumidor, o hábito-chave é comparar: olhar para o preço, listas de ingredientes e dados nutricionais reais, e não apenas para as alegações de destaque. Um iogurte natural simples, combinado com uma alimentação rica em fruta, legumes e cereais integrais, já apoia o microbioma. Um marketing elaborado não substitui padrões alimentares básicos.

Quem tem problemas digestivos específicos ou doenças crónicas deve também lembrar-se de que nem todos os fermentados são adequados para todos os intestinos. Mudar abruptamente para grandes quantidades de kefir ou outras bebidas fermentadas pode provocar inchaço ou desconforto. Uma introdução gradual, porções pequenas e, quando necessário, aconselhamento médico ajudam a evitar problemas desnecessários.

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