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Esta manteiga de supermercado, a menos de 4€, foi eleita a melhor pela 60 Millions de Consommateurs.

Mãos a barrar manteiga num pão; fatias adicionais e lupa ao lado em bancada de cozinha.

As prateleiras da manteiga parecem quase todas iguais, mas um discreto bloco de supermercado acaba de abanar os consumidores franceses e os amantes de comida.

Durante anos, os consumidores pegaram em manteiga em piloto automático, guiados pelo hábito ou pelo preço. Uma nova investigação da prestigiada revista francesa 60 Millions de Consommateurs veio desafiar esse reflexo, destacando uma manteiga “grand cru” acessível, por menos de 4 €, que supera as restantes, tanto no sabor como na forma como é produzida.

A obsessão pela manteiga por trás da manchete

A França continua a tratar a manteiga como um marcador cultural, e não apenas como uma gordura. Aparece à mesa do pequeno-almoço, entra nos croissants, dá brilho aos legumes e sustenta inúmeras bases de molho. Em 2023, o francês médio consumiu cerca de 2,75 kg, segundo o organismo nacional do setor dos lacticínios. Esse número diz muito sobre o quão central continua a ser no dia a dia.

Ao mesmo tempo, os conselhos de saúde vão empurrando os consumidores para óleos como o azeite ou o óleo de colza. A manteiga costuma perder o duelo nutricional por causa das gorduras saturadas. Ainda assim, os nutricionistas também sublinham que a manteiga contém vitaminas lipossolúveis, minerais, proteínas do leite e antioxidantes, quando consumida com moderação.

Esta tensão torna a escolha da manteiga mais estratégica do que parece. Se a vai consumir com frequência, a qualidade, o método de produção e a lista de ingredientes passam a importar mais do que uma embalagem chamativa ou uma simples decisão “sem sal vs com sal”.

Uma manteiga barata que combine cuidado artesanal, sabor verdadeiro e ingredientes limpos tornou-se um achado raro. Foi exatamente isso que chamou a atenção da 60 Millions de Consommateurs.

Porque é que a 60 Millions de Consommateurs se focou na manteiga

A 60 Millions de Consommateurs, uma revista de defesa do consumidor financiada pelo Estado francês mas editorialmente independente, construiu uma reputação com rankings diretos e sem rodeios. Testa regularmente produtos do quotidiano: salsichas, saladas embaladas, champôs, até comida para animais. Quando aponta o foco à manteiga, o impacto vai diretamente para milhões de cestos de compras.

No seu guia recente, com o título provocatório “Comment bien choisir son beurre sans se faire barattiner” (“Como escolher bem a sua manteiga sem ser ‘batido’”), a equipa analisou uma ampla variedade de opções de supermercado. Compararam preço, sabor, métodos de produção e prazo de conservação. Um produto, com preço abaixo de 4 €, surgiu como um “tesouro” inesperado.

A manteiga eleita a melhor do teste

A vencedora é uma manteiga batida de forma tradicional: Le Gall “beurre de baratte grand cru”, feita a partir de nata crua, não pasteurizada. Embora a marca seja bem conhecida em algumas zonas de França, raramente tem este tipo de destaque generalista fora do país.

Apenas cerca de 10% da produção francesa de manteiga ainda vem do processo de batimento em baratte, um método mais antigo que privilegia a fermentação lenta e o desenvolvimento de aroma. Os restantes 90% são feitos com processos mais rápidos e industriais, que priorizam consistência e maior prazo de prateleira.

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A Le Gall grand cru destaca-se por trazer um processo de estilo artesanal a um preço de supermercado, sem entrar no território das marcas de luxo.

O que significa, afinal, manteiga “de baratte”

Na prática, a manteiga de baratte segue um caminho mais lento e tradicional:

  • A nata matura com fermentos lácticos durante 10 a 20 horas.
  • Durante esse período, engrossa, acidifica e desenvolve aromas.
  • Depois, a nata vai para a batedeira (baratte), onde o movimento mecânico separa a gordura do líquido (leitelho).
  • As partículas de gordura agregam-se em pequenos grãos, que são reunidos e trabalhados até se transformarem em manteiga.

A 60 Millions de Consommateurs realça que este processo de 24 horas dá à manteiga um sabor “inimitável”, muitas vezes descrito como tendo uma ligeira nota de avelã. Para muitos provadores, essa nuance e a persistência do sabor aproximam-na mais de uma manteiga de quinta do que dos blocos padrão de supermercado.

Como difere da manteiga industrial típica

Aspeto Le Gall baratte grand cru Manteiga industrial típica
Nata Crua, não pasteurizada Normalmente pasteurizada
Tempo de fermentação 10–20 horas com fermentos lácticos Mais curto, mais controlado ou inexistente
Velocidade de produção Mais lenta, em bateladas Processo contínuo de alta velocidade
Perfil de sabor Complexo, com ligeira nota de avelã Mais suave, mais neutro
Prazo de conservação típico 2–3 semanas 2–3 meses

Para consumidores habituados a manteigas com datas longas, a última linha pode surpreender. As mesmas características que melhoram o sabor também encurtam o tempo de conservação.

Uma troca: sabor versus prazo de conservação

O mesmo processo com nata crua e fermentação lenta que dá carácter à Le Gall grand cru também a torna mais frágil. A manteiga crua contém mais microrganismos vivos e reage mais depressa às variações de temperatura. A 60 Millions de Consommateurs sublinha que este tipo de manteiga costuma aguentar duas a três semanas, face a dois ou três meses na maioria das opções pasteurizadas.

Comprar uma manteiga “grand cru” crua exige um pouco mais de planeamento: ganha-se em sabor, mas perde-se o luxo de a esquecer no fundo do frigorífico durante meses.

A marca oferece várias versões: sem sal (doux), meio sal (demi-sel) e uma linha biológica. Em França, a manteiga com sal acaba muitas vezes no pão e na pastelaria na Bretanha e na Normandia, enquanto a sem sal continua a ser o padrão em receitas de confeitaria que exigem controlo rigoroso do sal.

Como usar este tipo de manteiga em casa

O prazo mais curto não significa necessariamente desperdício, se ajustar a forma como cozinha. Muitos chefs e cozinheiros experientes tratam a manteiga premium quase como ervas frescas: algo para usar depressa e com intenção. Usos típicos de uma manteiga grand cru incluem:

  • Finalizar um molho de frigideira com uma pequena noz para brilho e sabor.
  • Barrar finamente em bom pão, a acompanhar sopa ou salada.
  • Fazer bolos simples, shortbread ou bolachas onde a manteiga manda no sabor.
  • Envolver em puré de batata ou polenta para uma textura mais rica.

Algumas pessoas mantêm uma manteiga standard, de maior duração, para frituras básicas e uma melhor - como a Le Gall grand cru - para momentos em que o sabor realmente se nota. Essa estratégia “dupla” ajuda a equilibrar orçamento, armazenamento e paladar.

O que isto significa para compradores fora de França

A maioria dos leitores no Reino Unido ou nos EUA não encontrará a Le Gall grand cru num pequeno supermercado local. Ainda assim, os critérios usados pela 60 Millions de Consommateurs aplicam-se bem noutros contextos. Apontam para uma forma mais geral de escolher manteiga, onde quer que viva.

Perante uma prateleira cheia de lacticínios, surgem padrões que ecoam este ranking francês:

  • Procure menções a “manteiga batida” (churned butter) ou referências a métodos tradicionais.
  • Leia o rótulo à procura de nata, fermentos e sal, em vez de listas longas de ingredientes.
  • Verifique se o produtor especifica nata crua ou pasteurizada e tempos de maturação.
  • Repare em datas mais curtas nas manteigas premium como sinal de menor processamento, não apenas como desvantagem.

No Reino Unido, algumas manteigas regionais recorrem a batimento lento e nata fermentada, mesmo que não usem exatamente o mesmo vocabulário. Nos EUA, “European-style butter” ou “cultured butter” costuma indicar maior teor de gordura e nata fermentada, mais próxima, no espírito, do que a Le Gall oferece.

Manteiga, saúde e escolhas práticas

Qualquer conversa sobre manteiga hoje acaba por tocar na saúde. A ciência da nutrição continua a alertar para grandes quantidades de gordura saturada, independentemente da qualidade. Ainda assim, há investigação que sugere que as gorduras dos lacticínios se comportam de forma diferente das gorduras trans processadas ou dos óleos hidrogenados presentes em alguns snacks.

Em muitas casas, a pergunta real passa a ser: como manter a manteiga à mesa sem a colocar no centro da dieta. Surgem várias abordagens práticas:

  • Usar pequenas quantidades de uma manteiga mais intensa, para manter o sabor alto e as porções moderadas.
  • Alternar com óleos vegetais para cozinhar, como azeite ou óleo de colza, sobretudo a altas temperaturas.
  • Reservar manteiga premium para finalizar pratos, e não para frituras profundas.

Esta estratégia encaixa particularmente bem numa manteiga como a Le Gall grand cru. O aroma intenso significa que uma fatia fina pode transformar um prato onde uma manteiga industrial neutra talvez exigisse quantidades maiores para se fazer notar.

Ler rótulos: um método rápido que pode reutilizar

O trabalho da 60 Millions de Consommateurs funciona também como uma lista de verificação informal. Sem acesso ao laboratório ou aos painéis sensoriais, os compradores podem imitar parte do raciocínio. Um método rápido e reutilizável pode ser:

  • Passo 1: Verifique os ingredientes. Menos linhas costuma significar menos processamento.
  • Passo 2: Identifique o tipo de nata (crua, pasteurizada, fermentada).
  • Passo 3: Procure termos como “batida”, “baratte”, “fermentada”, “maturada”.
  • Passo 4: Compare as datas-limite. Mais curtas muitas vezes significam produto mais delicado.
  • Passo 5: Alinhe a escolha com o uso: maior duração para cozinhar todos os dias; manteiga mais rica para momentos de sabor.

Aplicado de forma consistente, este método pode mudar hábitos de compra ao longo do tempo, mesmo que a referência francesa exata não esteja disponível. Também ajuda a separar termos de marketing inteligentes de detalhes reais de produção - um desafio recorrente nas embalagens alimentares atuais.

O caso francês mostra que uma manteiga abaixo de 4 € pode competir com rivais mais caros simplesmente por assentar em nata crua, tempo e batimento tradicional. Para muitos consumidores, essa combinação de preço e saber-fazer pode contar mais do que uma marca “de luxo”, sobretudo quando o orçamento aperta, mas o sabor continua a importar.

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