No entanto, um debate crescente aponta que nem todas as garrafas entregam o que os compradores esperam.
Um especialista em qualidade da água lançou uma controvérsia ao argumentar que algumas águas engarrafadas com teor ultrabaixo de minerais não acrescentam valor nutricional e induzem os consumidores em erro. A afirmação pode soar dura—"deveria ser proibido", diz ele—mas levanta uma questão real: afinal, o que estamos a pagar quando o rótulo promete água “pura” ou “leve”?
Porque é importante falar de minerais
Cálcio, magnésio e potássio ocorrem naturalmente em muitos tipos de água. Apoiam a saúde óssea, o funcionamento dos nervos e o ritmo cardíaco. Também influenciam o sabor. Água com algum teor mineral tende a ser mais arredondada ao paladar.
O argumento principal deste crítico dirige-se a águas reduzidas a níveis extremamente baixos de Sólidos Totais Dissolvidos (STD), por vezes promovidas como excecionalmente “puras”. Estas garrafas hidratam—sem dúvida—mas praticamente não contribuem com mais nada. Se confia na água para uma pequena parte da ingestão diária de minerais, isso faz diferença.
Águas com STD ultrabaixos hidratam o corpo, mas têm impacto quase nulo na ingestão de cálcio ou magnésio.
Todos precisam de água rica em minerais? Nem por isso. Uma dieta equilibrada cobre a maioria das necessidades. Ainda assim, para pessoas com maiores exigências—adultos ativos que perdem eletrólitos pelo suor, ou quem tem dificuldade em atingir a dose diária de cálcio—águas pobres em minerais retiram um potencial aliado.
Como os rótulos enganam
O marketing adora palavras como “pura”, “leve” e “glaciar”. Nenhum desses termos revela o conteúdo real. O rótulo sim—se souber onde procurar. Nos rótulos ao estilo europeu, a linha “resíduo a 180°C” refere-se ao STD. Em rótulos norte-americanos, procure “Total Dissolved Solids” ou então a discriminação dos minerais (cálcio, magnésio, bicarbonatos, sódio).
A linha do “resíduo a 180°C”
Este número, expresso em mg/L, corresponde ao teor total de minerais após evaporação da água. Guia rápido para consumo diário:
- 0–50 mg/L: teor mineral muito baixo (tende a saber a “água parada”)
- 50–500 mg/L: valor intermédio, agradável para a maioria
- Acima de ~1500 mg/L: muito elevado; pode saber a salgado ou “pesado”
Os números não contam toda a história—importa que minerais predominam. Por exemplo, bicarbonatos elevados podem ajudar na acidez após refeições pesadas. O magnésio é essencial para os músculos. O sódio pode ser alto em algumas águas e nem sempre é aconselhável para todas as dietas.
Vire a garrafa: se os minerais estiverem perto de zero, está a comprar hidratação e pouco mais.
Torneira ou garrafa: qual merece lugar à mesa
Em regiões com abastecimento municipal fiável, a água da torneira é fortemente regulada e monitorizada. Por norma, contém um perfil mineral razoável, definido pela geologia local. O preço é incomparavelmente menor, e o impacto do plástico desaparece de um dia para o outro.
Dito isto, a qualidade da água da torneira depende do “último troço”: a sua casa. Canalizações antigas podem libertar metais. Se mora num edifício com tubagens de chumbo ou suspeita de corrosão, vale a pena investir num kit de teste certificado ou contratar um profissional.
Se a sua torneira cumpre os padrões locais e sabe bem, costuma ser a escolha mais sensata.
Filtros que realmente fazem diferença
Para quem não gosta do sabor a cloro ou se preocupa com microcontaminantes, um bom filtro pode transformar a água da torneira:
- Jarras com carvão ativado reduzem o sabor a cloro e alguns compostos orgânicos.
- Filtros de bloco de carvão sob o lava-loiça melhoram o fluxo e o desempenho na cozinha.
- Osmose inversa elimina um largo espectro de contaminantes; um cartucho de remineralização pode recuperar o sabor.
- Troque os filtros nos prazos recomendados. Um filtro saturado é pior do que nenhum filtro.
Comparação rápida
| Opção | Teor mineral típico (STD) | Custo aproximado por litro | Resíduos de embalagem | Problemas comuns | Quando faz sentido |
| Água engarrafada com teor mineral ultrabaixo | 0–50 mg/L | 0,20 €–1,50 € | Alto (uso único) | Baixo valor nutricional, sabor por vezes insípido | Uso pontual quando a qualidade da torneira é incerta |
| Água mineral ou de nascente engarrafada | 50–1500+ mg/L | 0,30 €–2,00 € | Alto (varia conforme embalagem) | Preço; teor de sódio elevado em alguns casos | Preferência de sabor; perfil mineral pretendido |
| Torneira municipal | Geralmente 100–500 mg/L | Menos de 0,01 € | Mínimo | Questões de sabor local e canalização | Hidratação diária quando cumpre padrões |
| Torneira filtrada (carvão/osmose inversa) | Varia conforme o sistema | 0,02 €–0,10 € | Baixo (troca de filtros) | Requer manutenção, osmose pode retirar minerais | Melhoria do sabor; redução de contaminantes específicos |
O lado oculto das embalagens de plástico
Garrafas descartáveis trazem conveniência inegável. Mas também trazem riscos de microplásticos e migração de químicos, especialmente quando expostas ao calor. Vários estudos detetaram microplásticos em muitas águas engarrafadas, e o calor pode acelerar a libertação de compostos plásticos. Não deixe garrafas no carro nem ao sol. Se compra com frequência, prefira vidro ou garrafões retornáveis.
Há ainda a questão climática. Transporte e embalagem fazem a pegada ambiental disparar em comparação com a água da torneira. Para famílias que bebem vários litros por dia, a diferença acumula-se rapidamente ao longo do ano.
Quando a água pobre em minerais é problema—e quando não é
O contexto é importante. Atletas com grande transpiração perdem sódio e magnésio. Podem beneficiar de água com mais minerais ou ingestão suplementar de eletrólitos. Pessoas propensas a certos tipos de cálculos renais, sob recomendação médica, usam águas mais ricas em bicarbonatos e cálcio. Outros, em dietas pobres em sódio, podem preferir rótulos com baixo teor de sódio.
Bebés exigem atenção especial. Na preparação de fórmulas, procura-se água com baixos nitratos e sódio. A prioridade é a segurança e adequação, não o teor mineral absoluto. Daí que proibir de forma geral não resolva todas as situações. O mais sensato é rotulagem precisa e consumidores informados sobre o que ler.
Guia prático de compra: um olhar de 30 segundos ao rótulo
- Procure STD ou “resíduo a 180°C”. Se estiver perto de zero, espere hidratação sem minerais relevantes.
- Veja cálcio e magnésio (mg/L). Mesmo 40–80 mg/L de cálcio e 10–30 mg/L de magnésio já ajudam.
- Confira o sódio. Se controla o sal na dieta, atenção a este valor.
- Verifique origem e tratamento. “Nascente” ou “mineral” indica origem; “osmose inversa” significa retirada (e por vezes reposição) de minerais.
- Anote certificações e frequência de testes. A consistência é tão importante como a origem.
O que realmente quer mudar o especialista
A proposta mais radical—banir águas ultrabaixas em minerais—visa abalar o status quo. A solução mais prática é simples: exigir painéis de minerais claros em todos os rótulos e travar slogans vagos de pureza que ocultam o conteúdo. A hidratação deve ser transparente e comparável, como os rótulos nutricionais na alimentação.
Números claros no rótulo permitem escolher água pelo sabor, saúde e orçamento—sem adivinhações.
Mais dicas para uma escolha acertada
Um simples teste de sabor em casa revela muito. Ferva um pouco de água da torneira num tacho limpo. Se ficar um ligeiro anel esbranquiçado, provavelmente tem água dura (mais cálcio e magnésio). Não é defeito; costuma dar mais corpo ao sabor. Se a água souber a cloro ou amargor, um filtro de carvão resolve quase sempre.
Faça as contas em um minuto. Uma família que bebe 2 litros por pessoa ao dia consome cerca de 2.920 litros por ano (família de quatro). A 0,70 € por litro (engarrafada), são cerca de 2.044 € ano. Ao mudar para água da torneira filtrada a 0,05 € por litro, desce para 146 €, mais os filtros. A diferença paga muitas compras.
Considere ainda o armazenamento. Mesmo água engarrafada de qualidade perde com o calor e o tempo. Guarde fresca, fechada e longe do sol. Faça rotação de stock. Para viagens ou treinos, uma garrafa reutilizável cheia com água filtrada evita problemas—e lixo.
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