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Engenheiro naval explica como turbinas de maré estão a revolucionar as energias renováveis nas zonas costeiras.

Homem a bordo de um navio observa mapas náuticos, com grua operando no mar.

As cidades costeiras estão sob pressão para cortar o diesel, estabilizar as faturas e manter as luzes acesas quando o vento cai. As turbinas de maré prometem algo raro nas energias renováveis: um horário. Como me disse um engenheiro naval, as marés chegam como comboios, não como surpresas.

Num barco de trabalho que cheira levemente a óleo e sal, um engenheiro naval apoia-se no corrimão e observa a corrente a correr como um rio deitado de lado. O convés estremece quando uma grua balança uma caixa de ferramentas em direção a uma nacele à espera, negra e brilhante sob os salpicos.

Ele fala com mãos marcadas por cracas e parafusos. Mostra-me uma tabela de marés, a janela de manutenção do dia assinalada a lápis, e um monte de mapas de cabos impressos com cautelosas linhas vermelhas. Guillemots levantam voo à proa. Uma turbina zune algures abaixo, constante como um batimento cardíaco. O mar cumpre a sua agenda.

Onde a maré se transforma em energia

As turbinas de maré estão a mudar o ritmo da produção costeira porque não dependem da sorte. Roda quando a lua assim o determina. Os operadores podem prever a produção anos à frente, planeando turnos de equipas e vendendo energia com base em calendário, não em palpites.

Se estiver num cais em Caithness com maré parada, sente que a própria vila respira fundo. Depois a maré pega e todo o estreito se contrai, e aquelas pás lentas e robustas acordam. Eis a magia: baixo impacto visual, alta estabilidade e megawatt-hora previsíveis a fluir para redes que pedem estabilidade.

Veja o parque MeyGen, na Escócia, frequentemente citado como pioneiro. A primeira fase já forneceu dezenas de gigawatt-horas à rede com fatores de capacidade que fariam inveja a muitos parques eólicos. A grande O2 da Orbital Marine Power em Orkney mostrou potência multi-megawatt a partir de um único quadro flutuante, com rotores a submergir e emergir para manutenção como uma ponte basculante.

Do outro lado do Canal, a Sabella D10 da Bretanha levou energia a Ushant, uma ilha habituada ao ronco do diesel. Os residentes notaram o que NÃO aconteceu: sem piscares de luz, sem barulhos, sem dramas. Na Baía de Fundy no Canadá, engenheiros perseguem um recurso tão enérgico que raspa o fundo do mar; em centros de teste europeus como o EMEC, os dados acumulam-se semana após semana, transformando água salgada e matemática em previsões fiáveis.

Tudo isto não se resume apenas a quilowatt-horas. É sobre o que essas quilowatt-horas substituem e reforçam. O pico solar ao meio-dia coincide com as subidas e descidas da maré ao amanhecer e ao anoitecer, suavizando o perfil diário como uma boa linha de baixo acalma uma banda. A vida no mar é dura para as máquinas, mas estes rotores giram devagar, o que significa menos desgaste do que se pensaria e longos anos de produção quando o local é adequado.

Como se constrói, realmente, no mar

O método começa por ouvir a água. Os engenheiros lançam perfiladores acústicos de correntes durante meses, mapeando a velocidade da coluna de água em intervalos de quinze minutos. Usam sonar multifeixe para ler a “gramática” do fundo: ondulações, pedras, erosões. Depois determinam a orientação exata da turbina no pico de fluxo, para que o cabo saia limpo, com o raio de curvatura e profundidade certos.

No dia da instalação, o tempo é religião. As equipas trabalham na “maré morta”-as curtas janelas em que a corrente pára-para baixar uma estrutura de 200 toneladas sem lutar com a corrente. ROVs alinham pinos e tomadas como relojoeiros submersos. Aperta-se os conectores ao torque certo, testa-se a resistência do isolamento e faz-se um ping ao cabo para confirmar que a ligação está viva. Energia densa num espaço pequeno, domada pela coreografia.

Os erros mais comuns começam pequenos e tornam-se caros rapidamente. Ignorar o desenho correto dos ânodos fará com que a corrosão escreva a sua própria história no revestimento. Apressar o percurso do cabo, e uma rocha exposta trincará o isolamento como um cão com um sapato. Já todos tivemos aquele momento em que o tempo muda e percebemos que uma anilha em falta vai desperdiçar os últimos trinta minutos de maré morta. Sejamos honestos: ninguém faz isto todos os dias.

Os erros na comunidade também doem. Se não convidar os pescadores a mapear as linhas de aparelhos logo no primeiro dia, passará o segundo a pedir desculpa e o terceiro em tribunal. Exagerar nas promessas de empregos, a confiança evapora-se. Os melhores projetos dão formação, partilham dados de monitorização e abrem plataformas de turbinas a visitas escolares quando é seguro. Projetos reais criam empregos reais e duradouros.

“Não se vence a maré”, diz-me o engenheiro, apertando um manilhão. “Aprende-se o seu humor e depois faz-se amizade com ela.”

Trabalha-se com a água, não contra ela. Desenha para a maré morta, planeia para a subida, e dormirás descansado.
  • Estuda como cientista: 6–12 meses de dados reais superam palpites.
  • Mantém os cabos simples: percursos curtos, curvas suaves, boa proteção ou entubação.
  • Manutenção = timing: intervém durante marés de pouca amplitude, com margem para tempestades.
  • Plano contra bioincrustação: revestimentos, intervalos de limpeza, e margens de carga realistas.
  • Ganhos locais: forma equipas no porto, cria estágios, publica os dados.

O que muda em terra

As regiões costeiras sentem primeiro a mudança nos seus balanços. As faturas de diesel encolhem; picos de importação da rede achatam-se; o porto mantém-se mais ativo no inverno com manutenção, não só desembarque de pescado. Quando as turbinas ficam escondidas sob as ondas, o turismo não se assusta e a água trabalhadora continua a sê-lo.

Há uma resiliência mais profunda. Equipamento subaquático resiste a tempestades que fechariam eólicas. Baterias em terra captam energia da vazante, fazendo com que maré + armazenamento se comportem como uma base sólida e estável. Pescas podem coexistir quando mapas de aparelhos, corredores de navegação e afastamentos são acordados de dia, não à posteriori.

Depois há o orgulho. Um porto que aprende a manter máquinas avançadas atrai fornecedores e estudantes. Os jovens veem um caminho de futuro na terra natal, para lá da sazonalidade. Energia em sintonia com a lua faz-nos desviar os olhos do telemóvel e voltar a olhar o horizonte.

O que acontece quando a rede costeira aprende a respirar com a maré? As conversas mudam. As pessoas perguntam por oportunidades com a mesma energia que antes dedicavam às queixas. E os planeadores de energia-esses peritos de folha de cálculo-começam a confiar em previsões livres de surpresas. A maré, com toda a sua força, é um professor paciente.

Um engenheiro naval dir-lhe-á que isto não é magia, é repetição bem feita. Medir, modelar, instalar, aprender, repetir. Agora, a política está a adaptar-se, o financiamento aprende as curvas, e a tecnologia vai limando arestas. Por isso, os próximos cinco anos contam mais do que os últimos quinze.

Se vive junto ao mar, notará primeiro em pequenos pormenores: um porto mais silencioso à noite, menos camiões de geradores no cais, um projeto escolar sobre lontras junto a uma turbina. Pequenos sinais de que o futuro chegou e bateu à porta, em vez de a arrombar. A corrente move-se. A sua linha de costa pode mover-se com ela.

Ponto-chaveDetalheInteresse para o leitor
PrevisibilidadeAs marés seguem ciclos astronómicos mapeados com anos de antecedência; previsões de produção fixam manutenção e receitas.Confiança nas faturas, menos apagões, planeamento facilitado para casas e negócios.
Densidade energéticaA água é cerca de 800x mais densa que o ar; rotores lentos colhem muita energia em canais apertados.Menor pegada do que muitos parques eólicos/solares, impacto visual mínimo junto a costas valiosas.
Valor localOs portos ganham empregos de manutenção, estágios e cadeias de abastecimento que permanecem.Novas carreiras perto de casa, trabalho todo o ano, economias locais mais fortes.

Perguntas Frequentes:

  • As turbinas de maré são seguras para a vida marinha? Estudos em locais piloto mostram baixo risco de colisão, graças à lentidão das pontas das pás e à capacidade dos animais de evitar obstáculos. Os projetos incluem monitorização e protocolos de paragem quando há mamíferos presentes.
  • Como se comparam às eólicas em termos de produção? Uma única unidade de maré fornece menos megawatts do que uma grande turbina eólica, mas funciona com maior previsibilidade e bons fatores de capacidade em locais favoráveis.
  • Continuam a funcionar durante tempestades? Sim. Estando debaixo de água, ficam protegidas das ondas; os operadores podem ajustar ou parar as pás em extremos e retomar quando as correntes normalizarem.
  • Quanto custam atualmente? As primeiras unidades são caras por megawatt-hora, tal como a eólica offshore há uma década. Os custos baixam rapidamente à medida que se multiplicam os parques, se normalizam os projetos e os portos ganham experiência.
  • Cidades pequenas podem funcionar “off-grid” só com a maré? Frequentemente em híbrido. A maré combina bem com baterias, vento e solar em micro-redes que parecem uma fonte única e estável.

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