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Durante 12 anos procurou incansavelmente o disco rígido com 650 milhões em bitcoins, e agora a sua história ganha um novo rumo dramático.

Homem com folha e garrafa em frente a aterro, gráfico em ascensão sobreposto.

O valor oscila como um gráfico de febre, mas um número nunca deixa de ecoar: cerca de 650 milhões de dólares. Agora, à beira do cansaço e da determinação, uma nova reviravolta altera tudo.

Ao amanhecer, o aterro parece inofensivo, quase bonito — gaivotas húmidas a circular, uma faixa de nuvem cor-de-rosa sobre Newport, o sussurro de um vento que nunca descansa. Ele está junto à vedação com um termo e uma impressão já dobrada tantas vezes que parece tecido. Doze invernos e verões, nunca largando completamente. Os amigos cansaram-se. Os jornalistas vieram e foram. A câmara disse não, vezes sem conta, alegando segurança e custos, e a possibilidade de já não restar nada além de ferrugem e esperança vã.

Ele ainda guarda o número de série num cartão gasto na carteira, como se fosse uma oração. Só mais uma tentativa, murmura.

Depois sorri, não como quem ganha — mas como quem conhece os dados e gosta do risco. A reviravolta chegou finalmente.

A busca que não quis morrer

Ele é James, o engenheiro que em 2013 esvaziou uma gaveta e lançou um pequeno disco cinzento para o esquecimento, junto com chávenas e cabos. Só percebeu o erro quando o bitcoin deixou de ser passatempo e passou a ser manchete. Esse único gesto perseguiu-o ao longo de trocas de emprego, relações e uma dúzia de estações de chuva britânica. O que o faz avançar não é a ganância, diz ele, mas a comichão específica de um problema solucionável. Um mapa. Um método. Um momento de redenção que talvez ainda chegue.

Em 2021, propôs uma busca com triagem guiada por IA, tapetes rolantes e cães-robô da Boston Dynamics — um golpe de ficção científica, sem o crime. Investidores prometeram milhões se a cidade lhe desse acesso. A câmara hesitou, apontando gases perigosos e o risco de perturbar um local selado. E, mesmo assim, os números desafiam: no início de 2021, essas moedas valiam mais de meio bilião; no fim de 2022, o mercado caiu em queda livre; em 2024 voltou a disparar. A história move-se com o gráfico do preço: subidas vertiginosas, quedas brutais, esperança teimosa.

Aqui está a reviravolta: dados de imagiologia não invasiva, recolhidos ao longo de meses com magnetómetros e radar de penetração no solo, apontam para uma anomalia densa e retangular exatamente no setor que James mapeou com registos antigos do aterro. A equipa chama-lhe um “sinal a perseguir.” Os advogados de Newport dizem que é “irrelevante” para a segurança pública. Ele já pediu licença para uma escavação cirúrgica de no máximo 90 dias, garantindo os custos da cidade através de uma caução. Se for concedida, será a última e estreita janela antes de essa secção ser requalificada para uma central solar. O tempo, antes inimigo vago, agora tem data marcada.

Risco, recompensa e a matemática da obsessão

No papel, o plano parece uma tese de engenharia. A escavação cirúrgica abriria uma vala não mais larga que um camião de entregas, escorada com aço e monitorizada em permanência para metano. Cada balde passaria sobre sensores de imagem, depois por uma linha de triagem ajustada à assinatura da caixa do disco. No momento em que a assinatura surge, a linha para, as câmaras gravam, o disco é tratado como prova forense. Armazenamento a frio. Protocolos de laboratório. Uma cadeia de custódia pronta para tribunal e sala limpa de recuperação de dados, tudo de uma só vez.

Pergunte a um especialista em recuperação de dados e ele vai torcer o nariz. A probabilidade de um disco de 2,5 polegadas, enterrado há mais de uma década num aterro húmido, arrancar é baixa. Mas esse é o critério errado, dizem os engenheiros. Não é preciso que o prato gire; bastam pratos intactos e a paciência para reconstruir a partir dos fragmentos. Existem casos de sucesso após incêndios e inundações. Ainda assim, o leque de resultados é grande: desde uma wallet.dat completa e legível até confetis trágicos. O mercado impõe a sua própria volatilidade. Cada mês perdido é uma fortuna achada ou falhada.

Na matemática humana, o saldo é diferente. Doze anos corroem a certeza, mas não a crença. James mantém registos meticulosos, não como prova ao mundo, mas como lastro para si. Fala do disco como se fosse uma pessoa que traiu e quer trazer de volta. Todos já vivemos esse momento: um pequeno erro torna-se história de vida e tens de escolher — desistes, ou vives com a perseguição. Ele escolheu a perseguição. Se isso é loucura ou coragem depende de onde te posicionas no lodaçal.

O que esta busca ensina a quem tem ouro digital

Há método nesta confusão, e começa na tua secretária. Se tens cripto ou outro ativo digital crítico, faz hoje um plano físico e simples de recuperação. Uma folha. Onde está a seed phrase. Quem poderá aceder se tu não puderes. Roda vários backups encriptados — um em hardware wallet num cofre pequeno, outro num banco, um dividido em partes guardadas por duas pessoas de confiança. Imprime um QR do endereço público para verificação e guarda um envelope selado com o caminho de derivação. Depois faz aquilo que quase todos ignoram: agenda um “simulacro” anual, para confirmares que consegues restaurar tudo do zero.

Sejamos honestos: ninguém faz isso todos os dias. Por isso, torna a tarefa leve e rara. Encara-a como renovar o passaporte, não como passar fio dental. Mantém a seed phrase longe de câmaras e da cloud. Não a fotografe. Nunca a escrevas no telemóvel. Se possível, usa backup em metal — água e tempo destroem papel sem piedade. Se insistes em notas digitais, encripta localmente e guarda as chaves offline. E, se uma atualização de carteira pedir a seed do nada, pára. Assim é que os engenheiros sociais entram sorrateiramente na tua vida de sorriso nos lábios.

James aprendeu da pior maneira que backups não são apenas ficheiros — são rituais. Fala agora sobre redundância com o zelo de um alpinista que viu uma corda gasta e sobreviveu para contar. Esse rigor molda também a sua escavação: contenção, versionamento, registos verificáveis, observadores independentes. O disco pode já não existir, mas a disciplina que impôs talvez seja o verdadeiro ponto.

“Não quero uma estátua. Quero uma oportunidade justa para provar que o sinal é real. Se for beco sem saída, serei o primeiro a admiti-lo. Mas deixem-me procurar.”
  • Faz um plano de recuperação de uma página, impresso, e guarda-o num envelope à prova de fogo.
  • Usa duas hardware wallets espelhadas com a mesma seed, guardadas em locais diferentes.
  • Faz um teste de restauração anual num dispositivo suplente, e apaga-o depois cuidadosamente.
  • Deixa instruções legais e claras para um herdeiro de confiança, usando dead-man’s switch ou carta testamentária.

Uma história ainda a ser escrita

Talvez o disco rígido nunca volte a funcionar. Talvez os dados sobrevivam como mensagem numa garrafa. A reviravolta — imagens que apontam para um local provável, pedido judicial para escavação limitada, um terreno que em breve pode ficar selado sob painéis — faz das próximas semanas o final de temporada. Ou a câmara cede sob pressão pública e um forte plano de segurança, ou a janela fecha-se e a lenda cimenta-se. O que começou como erro tornou-se teste sobre como tratamos valor invisível e ideias impossíveis de enterrar.

Se achas que ele é teimoso ou corajoso, a história impõe uma pergunta simples: como manter aquilo que não se pode substituir? As moedas contam, sim. Mas há outra coisa no aterro — a sensação de negócio inacabado que ressoa em muitos de nós. Não precisas de perseguir uma fortuna debaixo do lixo para sentir isso. Algumas buscas acabam em recuperação. Outras em aceitação. Ambas podem ser vitória.

Ponto chaveDetalheInteresse para o leitor
A reviravoltaNovas imagens sugerem uma zona-alvo específica; escavação limitada está sobre a mesa.Indica um verdadeiro ponto de viragem após anos de impasse.
O riscoPratos longamente enterrados podem estar degradados; recuperação possível, mas incerta.Ajuda a ajustar expectativas e releva porque a disciplina vence a esperança.
LiçãoRituais simples e repetíveis de backup vencem sistemas complicados que nunca testas.Passos práticos para proteger hoje os teus ativos digitais.

Perguntas Frequentes:

  • Quem é o homem à procura do disco rígido do bitcoin?James Howells, um informático de Newport, País de Gales, deitou acidentalmente fora em 2013 um disco rígido que diz conter uma carteira com cerca de 8.000 BTC. A procura tornou-se uma saga longa e pública.
  • Há realmente novidades depois destes 12 anos?Sim. A sua equipa reuniu imagens não invasivas que apontam um alvo promissor e ele pede autorização para uma escavação cirúrgica, sob segurança e controlo ambiental rigorosos. Os responsáveis municipais continuam céticos.
  • É possível recuperar dados de um aterro ao fim deste tempo?Possivelmente. O disco não tem de “rodar” para ser útil se os pratos estiverem intactos. Laboratórios especializados podem tentar ler fragmentos e reconstruir. As probabilidades são incertas e dependem de corrosão, pressão e humidade.
  • Porque é que a cidade não o deixa simplesmente procurar?Aterros envolvem riscos reais: gases tóxicos, instabilidade do solo e regras ambientais. As autoridades pesam segurança pública e custos contra um pedido privado sem garantias de sucesso. Essa tensão faz o impasse.
  • O que devo fazer para evitar um desastre assim?Mantém um plano de recuperação simples e escrito; vários backups offline; testa recuperações anualmente; nunca fotografes ou guardes seeds na cloud; considera um backup em metal. Um hábito anual vence o pânico pós-perda.

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